sexta-feira, 12 de outubro de 2012

REALIDADE - Os professores são formados pela EaD

Quase metade das matrículas de Pedagogia são em cursos a distância no
Brasil. De acordo com o Censo da Educação Superior do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) de 2010 – o mais
recente disponível –, 47,87% dos estudantes cursam a graduação não presencial para se tornarem professores.

Mais de 273 mil alunos estão matriculados em cursos a distância, sendo
apenas 12,29% deles em instituições públicas.

Para entender a modalidade de ensino e traçar um perfil dos alunos desses
cursos, a Fundação Victor Civita (FCV) desenvolveu, em parceria com Maria
Elizabeth de Almeida, professora da Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo (PUC-SP), o estudo “Educação à Distância: Oferta, Características e
Tendências dos Cursos de Licenciatura em Pedagogia”.

O levantamento foi feito entre 2011 e 2012, por meio de uma pesquisa em oito
instituições, sendo cinco públicas e três privadas, e com base em dados
oficiais do Ministério da Educação (MEC). Todas se localizam em cinco
cidades representativas das regiões brasileiras: Manaus (AM), Recife (PE),
Goiânia (GO), São Paulo (SP) e Porto Alegre (RS).

Angela Dannemann, diretora-executiva da FCV, lembra que a crescente busca
pela modalidade foi estimulada por políticas governamentais. “Houve um
incentivo muito grande para que surgissem cursos de EAD no Brasil. Além da
Universidade Aberta (do Brasil, UAB), que foi um programa do governo federal
que abriu vagas de Educação a distância nas faculdades e universidades
federais e estaduais, estimulou-se que a iniciativa privada criasse também
esse tipo de curso”, afirma.

Para ela, o aumento do acesso do docente a diversos cursos de EAD permitiu
que muitos profissionais sem diploma conquistassem o seu.

Perfil do aluno
Segundo o estudo realizado pela FCV, 67% dos alunos que cursam Pedagogia a
distância já trabalham na área da Educação e 44% pensavam que o curso seria
mais fácil.

Maria Elizabeth de Almeida, docente da PUC-SP e responsável pela coordenação
geral do estudo, acredita que o alto índice de estudantes que já atuam na
área é reflexo da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) e que a má impressão de
que os cursos em EAD são menos difíceis é uma questão inerente a essa
modalidade de ensino.

“Para fazer um curso em EAD, você está muito mais provocado a trabalhar com
a leitura e com a escrita do que um curso presencial, onde as relações se
fazem por meio da oralidade. Então, quando você vai para um curso a
distância, há um esforço maior do aluno para os materiais de apoio”,
declara.

Outro aspecto apontado pelos estudantes de Pedagogia em EAD é a falta de
flexibilização do tempo para o cumprimento da entrega de atividades. “Isso
torna o curso mais difícil, porque há muitos trabalhos para o aluno fazer e
a maioria deles trabalha”, afirma a professora da PUC.

Dificuldades
Para os especialistas, alguns dos problemas enfrentados por essa modalidade
de ensino são os mesmos dos cursos presenciais.

“O maior desafio, especificamente em Pedagogia a distância, é que
lamentavelmente o curso reproduz os mesmos problemas do curso presencial”,
analisa Angela Dannemann. “Ele é muito teórico, não aborda as dificuldades
práticas de sala de aula e na realidade está buscando formar muito mais um
futuro universitário pesquisador do que um professor aplicado na rede
escolar da Educação Básica”.

Klaus Schlünzen Júnior, professor e idealizador do Núcleo de Educação a
Distância da Universidade Estadual Paulista (Unesp), concorda e analisa que
existem hoje cursos de Pedagogia em EAD com qualidade superior a dos
presenciais. “Você consegue ter bons cursos de EAD com um projeto pedagógico
bem feito, articulando teoria e prática e desenvolvendo o processo de
interação entre professores e alunos”, afirma.

Elisa Tomoe Moriya, professora doutora em Educação pela Unesp e coordenadora
do programa Redefor, defende uma melhor formação para os formadores que
trabalham nessa modalidade de ensino. “O professor-tutor também tem que ser
bem formado e orientado”, afirma. “O tutor é a ponte entre o cursista e o
saber”.

Tecnologias
A noção de que as Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) ainda são
mal incorporadas nas instituições de ensino a distância também aparece no
estudo.

“Se as novas tecnologias são instrumentos para a midiatização do curso a
distância, o próprio curso tem que prover condições para os alunos
desenvolverem competências tecnológicas, ou seja, a inclusão digital deste
aluno tem que ser garantida pelo próprio curso, caso contrário você deixa de
fora talvez aqueles que mais precisariam dele”, afirma Maria Elizabeth de
Almeida.

Ela acredita ainda que as tecnologias, sobretudo o computador e a internet,
trazem possiblidades de se superar o isolamento aluno-professor.

Já o professor Klaus Schlünzen Júnior acrescenta que a produção de materiais
para a Educação a distância requer uma maior integração com as tecnologias.
“No momento em que eu desenvolvo um material pedagógico onde eu tenho
videoaulas, videoconferências e fóruns, ele tem que estar todo articulado
com o ambiente virtual de aprendizagem”, afirma.

Autor: Dalner Palomo/Unesp (HISTEDBR/02.10.2012)

FONTE: Último Censo do Inep; estudo da Fundação Victor Civita traçou perfil dos alunos

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