No dia 7 de setembro, comemora-se
no Brasil o dia da Independência (Independence Day), lembro-me
dos dias na infância que íamos alegres desfilar nas ruas da cidade comemorando
a “independência”, levantando a bandeira e marchando, sem mesmo saber o que
isso realmente significara.. Adorava ouvir a banda, e ver os soldados na rua..era
muito emocionante. Hoje estas saudosas lembranças me fazem pensar na contradição da história,
especialmente em dois aspectos:
1º. Existe
uma ilusão histórica sobre a independência, não generalizada, mas parece
que o orgulho patriótico se resumiu a uma festa a fantasia e a alegria,
especialmente das crianças, de desfilar na rua com os amigos da escola, ou um
dos poucos momentos que observamos a força militar brasileira nas ruas.. Uma
data vazia que muitos tiram para descansar, ver um filme, ou se reunir com
os amigos, isto, talvez, porque sempre fomos dependentes de alguma coisa ou
alguém. Na escola pouco se fala de forma crítica sobre nossa história e nossas
possibilidades, não temos a cultura patriótica e o orgulho nacional expresso no cotidiano, nos EUA, por exemplo, é bem mais visível este sentimento, desde as fachadas das casas aos filmes sempre com aquela bandeira aparecendo em algum momento, e se formos falar de bandeira, quando a nossa aparece mesmo? são raros os momentos ... Enchemos a boca pra
dizer... sou brasileiro com muito orgulho
e muito amor... mas a única vez que saímos com a blusa do Brasil é em jogos da seleção brasileira (especialmente na Copa do Mundo), ou campeonatos desportivos
e se (ou quando) perdemos, "rasgamos" a bandeira... Isso se dá, não porque não amamos nosso
país, mas porque não nos fora cultivado (seja pela família, escola ou mídia), um
verdadeiro significado de nosso valor, de nossa construção histórica, social, de
nossas lutas (ninguém fala mais sobre a ditadura) e de muitos heróis que diariamente
travam batalhas homéricas pela sobrevivência... No contexto histórico, a
aparente comemoração da independência está atrelada ao um Dom Pedro cheio de
interesses, preocupado com as resistências da aristocracia rural e com sua
manutenção no poder (algo que historiadores nos explicariam muito melhor), temos
inclusive, pesquisadores que duvidam até mesmo da veracidade do grito do
Ipiranga: "Independência ou Morte", retratado em um clássico quadro (positivista
e ilusório) de Pedro Américo (1888), que deu o glamour para acena que talvez nunca
tenha existido e que aprendemos na escola, pelo menos antigamente, como
verdadeiro retrato do ocorrido.
2º. A
Independência ou a Morte não foi uma alternativa, mas uma condição
para legitimar uma dependência com direitos, ou seja, Dom Pedro não será
mais Rei, mas continuará imperador, o poder local começa a ter condições de
luta política e acertos partidários se inicia, a dependência imediata se
transforma em acordos políticos internacionais, as pessoas (cidadãos) começam a
ter direitos, antes negados, mas também deveres, o pacto social é constituído, regulamenta-se
a contribuição fiscal, as taxas, os juros, e tudo mais que pagamos para a
manutenção do Estado, agora como representação do povo. Não trato aqui que seria
melhor ou pior a independência (ela foi uma conseqüência de fatos de uma colonização
saturada – a meu ver), refiro-me essencialmente às condições materiais, históricas
e dialéticas que fazem dos acontecimentos não uma coisa unilateral, pelo amor
aos brasileiros e aos direitos do cidadão, mas que nada foi por acaso, e neste
processo encontramos o embrião histórico do poder da burguesia brasileira e da
cultura política classista que se instalou e perpetuou, com diversas variações,
na história do Brasil.

Entretanto, ter uma vida
melhor, livre com direitos, saúde, educação, melhores condições de vida e de
trabalho (não com políticas assistencialistas, focais etc.), com a valorização
das pessoas está, para muitos, no plano das idéias (utopia), mas isto será possível
quando lutarmos por uma nova sociedade, recomeçar o Brasil e o
mundo em novas relações sociais, pois esta – capitalista - consumista e
conformada, não nos dará condições de novas possibilidades, além destas
limitadas/ilusórias que já temos.
É hora de pensar/escolher... Independência
ou Morte?
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